Cientistas submeteram camundongos jovens a isolamento.
Expressão de gene de roedor propenso a transtorno teve mudança.
Camundongos foram submetidos a isolamento
durante adolescência e depois retornaram ao grupo
(Foto: Divulgação/S. Karaki e F.Tronche)
durante adolescência e depois retornaram ao grupo
(Foto: Divulgação/S. Karaki e F.Tronche)
Cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, encontraram uma ligação entre o estresse na adolescência e transtorno mental na idade adulta em camundongos com predisposição genética para esse tipo de problema.
A descoberta, publicada na revista “Science” desta quinta-feira (17),
pode trazer implicações para a prevenção e tratamento de esquizofrenia,
depressão e outras doenças mentais.
"Nós descobrimos que, em camundongos, o estresse na adolescência pode
afetar a expressão de um gene que codifica um neurotransmissor,
relacionado à função mental e a doenças psiquiátricas", explicou o líder
do estudo Akira Sawa, professor de psiquiatria da universidade.
Durante o estudo, o professor e sua equipe isolaram camundongos
saudáveis e com predisposição genética para desenvolver doença mental
durante três semanas – período equivalente à adolescência do roedor.
Os resultados revelam que o isolamento não provocou qualquer efeito
sobre o comportamento dos camundongos saudáveis. Já os animais com
predisposição genética para transtorno exibiram comportamentos
associados às doenças mentais, como a hiperatividade.
Além disso, quando os roedores com fatores de risco genético foram
devolvidos ao convívio dos demais, eles continuaram apresentando
comportamentos anormais. O fato sugere que os efeitos do isolamento
duraram até o equivalente à idade adulta.
Dopamina
Os resultados da pesquisa revelam não só a presença de níveis elevados de cortisol (conhecido como o hormônio do estresse porque é mais produzido em situações estressantes), nos animais com transtornos, mas também de níveis significativamente mais baixos do neurotransmissor dopamina na região do cérebro responsável por funções como controle emocional e cognição.
Os resultados da pesquisa revelam não só a presença de níveis elevados de cortisol (conhecido como o hormônio do estresse porque é mais produzido em situações estressantes), nos animais com transtornos, mas também de níveis significativamente mais baixos do neurotransmissor dopamina na região do cérebro responsável por funções como controle emocional e cognição.
Para determinar se as taxas de cortisol influenciaram os níveis de
dopamina no cérebro e os padrões comportamentais nos camundongos adultos
com transtornos, os pesquisadores deram aos animais um composto chamado
de RU486, conhecido por bloquear as células de recepção de cortisol. O
resultado foi que todos os sintomas desapareceram.
Para entender o motivo da melhora, a equipe de cientistas se debruçou
sobre o gene que produz a enzima que regula os níveis de dopamina. Este
gene teve seu funcionamento alterado, inibindo-o de realizar sua função
e, com isso, deixando a dopamina em níveis baixos demais.
A descoberta aponta para a necessidade de um melhor atendimento
preventivo aos adolescentes com histórico de doenças mentais na família,
incluindo esforços para protegê-los de situações que provoquem
estresse, acreditam os pesquisadores.
Além disso, a compreensão da "cascata de eventos" provocada pelo nível
de cortisol elevado pode levar ao desenvolvimento de novos compostos
para tratar distúrbios psiquiátricos, com menos efeitos colaterais do
que o RU486.
FONTE: Revista Science - G1 SP