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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Camisinha é reinventada, mas sem perder a eficácia

Camisinha tradicional , à esquerda é comparada à que vem sendo testada: Formas e materiais diferentes

Pesquisas buscam materiais mais resistentes e formas mais anatômicas para diferentes tipos de uso.

— As companhias de preservativos começaram a focar na sensação de prazer. A maioria das relações sexuais ocorre porque é prazerosa. Portanto, dada a importância da camisinha, é preciso que aqueles que as produzem entendam o que os consumidores gostam e como elas contribuem para o sexo — explicou Michael Reece, diretor adjunto de pesquisa e pós-graduação da Escola de Saúde Pública da Universidade de Indiana (EUA), responsável por um dos maiores estudos em comportamento sexual.

É o que também defende o designer de produtos Daniel Resnic, dono da americana Strata, responsável pela Origami Condoms: “funcionalidade e prazer devem andar juntos, sem negligenciar um ou outro”. Em 1994, descobriu ser HIV positivo, o provável resultado de uma camisinha rasgada, o que o fez se envolver na causa. A primeira mudança que implementou foi no material: um adeus ao látex, usado há quase um século, para dar lugar ao silicone. Segundo ele, é mais flexível, tem menos fricção e bloqueia vírus com mais segurança. No design, uma espécie de acordeon promete transformar o sexo com camisinha melhor do que sem ela.

Preservativo para sexo anal é uma das apostas
A grande novidade, na verdade, é o estudo para a criação de um preservativo especial para o sexo anal, uma das principais formas de transmissão do vírus HIV. Ele levaria em consideração a diferente anatomia, e o parceiro ativo não a vestiria, seria parecido com o diafragma, que já é usado informalmente por alguns no sexo anal.
— O preservativo anal teria um consumidor esperado de homossexuais masculinos, no entanto, o maior mercado para este dispositivo é de heterossexuais, simplesmente devido às proporções populacionais, de 10% de gays contra 90% de héteros — afirmou Resnic, por email.
Com patrocínio do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, as pesquisas estão no estágio de testes clínicos. De acordo com Resnic, está prevista uma avaliação da Food and Drugs Administration (FDA), a agência regulatória do país, em outubro de 2014. Em seguida, na União Europeia e no Brasil.
Se aprovado, seria uma enorme mudança comparada com o início do uso de preservativos. A primeira referência na literatura médica é do século XVI, quando o anatomista Gabriele Falloppio inventou uma espécie de linho feito de pele de animais, intestino e bexiga, para ser usado contra a sífilis. Diz a lenda que o galanteador Casanova chegou a testá-lo nos carnavais de Veneza, mas não curtiu. Depois de outras experiências malsucedidas, o látex chegou por volta da década de 1920, e pouco mudou nos anos subsequentes.
Um novo protótipo de diafragma, o SILC, também vem sendo testado pelo Programa de Pesquisa Contraceptiva (Conrad). Uma barreira de silicone se diferenciaria de outros dispositivos por ser de tamanho único, capaz de se adequar a qualquer corpo feminino. Além disso, diafragmas em geral impedem a gravidez e o contágio de algumas doenças sexualmente transmissíveis, mas não são eficazes contra a Aids.
— A Conrad irá testar o SILC junto com o gel tenofovir, o primeiro produto que mostrou reduzir infecções, como o HIV. Ele já vem sendo testado em nove países no sul da África — defendeu a pesquisadora Annette Larkin.

Gel contra Aids é testado de diferentes formas
Além da Conrad, outros centros põem o gel microbicida no front das pesquisas. Na própria Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o setor de estudos genéticos criou, a partir de algas, um gel capaz de prevenir a Aids. O objetivo, neste caso, seriam países, como alguns africanos, em que até 60% das mulheres foram contaminadas, e onde a opinião prevalente é a do homem, que tem maior resistência quanto ao uso do preservativo. A Universidade Laval, de Quebec, no Canadá, vem trabalhando num estudo parecido. Um aplicador introduziria o gel da “camisinha invisível”.
— Homens sempre tiveram o controle sobre a camisinha. Mulheres não têm voz. Nosso objetivo seria ajudar as mulheres — disse a professora Rabeea Omar, à revista “New Scientist”.
Na Universidade de Washington, um tipo de fibra, chamada electrospun, seria aplicada na vagina e dissolveria o germicida, eficiente para a contracepção e ainda preveniria contra o HIV.
— Nós já temos as drogas para fazer isto. O que precisamos é de uma tecnologia para aplicá-la de forma que as torne mais potentes e façam com que a mulher queira utilizá-la — defendeu Kim Woodrow, autora do estudo publicado na “PLos One” e premiado pela Fundação Bill e Melinda Gates.
O pesquisador Michael Reece ainda pondera sobre esta tecnologia de germicidas:
— Mais pesquisas ainda são necessárias. Alguns previnem contra gravidez e HIV, mas não contra infecções de pele, como herpes e verrugas genitais. E também precisamos entender melhor como eles seriam utilizados — disse ele, que ainda garante que já houve mudanças significativas nos últimos cinco anos. — Hoje elas vêm em diferentes formas, texturas e materiais, com lubrificantes que trazem mais prazer. A indústria de preservativos tem seguido as preferências dos consumidores.
Mitos provocam resistência a uso
O mercado global de preservativos deve atingir a marca de 27 bilhões de unidades vendidas e de US$ 6 bilhões arrecadados no ano de 2015. Mas números da ONU mostram que 34 milhões de pessoas estão vivendo com o vírus da Aids. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são 608.230 casos registrados de Aids. Anualmente, no país, a doença ainda mata 12 mil pessoas.

O pesquisador Michael Reece, diretor adjunto de pesquisa e pós-graduação da Escola de Saúde Pública da Universidade de Indiana, publicou recentemente um estudo sobre o uso de preservativos e diz que a resistência ao uso ocorre por causa de certos mitos:
— Não é verdade que as camisinhas diminuem o prazer. Hoje estamos aprendendo que tanto homens quanto mulheres afirmam que acham o sexo agradável com ou sem camisinha. Outro mito comum é que elas não são eficientes como os métodos anticoncepcionais. Isto não é verdade. Cada preservativo é testado individualmente antes de ser distribuído, e eles são o único método contraceptivo que ainda garante proteção contra infecções sexualmente transmissíveis — afirma.
A pesquisa ainda mostrou que as pessoas acham o preservativo uma importante parte do prazer da experiência sexual, porque acreditam em sua eficiência (que é de quase 100%) e não se preocupam com as consequências do ato sexual, se sentindo mais relaxados durante o momento.
Além da Aids, o preservativo protege contra uma série de outras doenças. No Brasil, são registrados por ano 937 mil casos de sífilis; 1.541.800 de gonorreia; 1.967.200, de clamídia; 640.900, de herpes genital; e 685.400, de HPV. Outras doenças cujas estatísticas são hepatites B e C, candidíase e outras infecções.

Fonte: Flávia Milhorance - O GLOBO