Participam do estudo quatro pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde. Eles usaram a vacina contra a febre amarela, desenvolvida no Brasil, como base para criar uma vacina contra a aids em macacos. Quase cem macacos foram vacinados e expostos ao vírus, mas a aids não se desenvolveu. Essa vacina estimulou a produção de células que matam os glóbulos brancos contaminados com o vírus da aids, evitando que ele se reproduza.
É o que explica a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz e uma das colaboradoras do estudo, Myrna Bonaldo. ”Essas células reconhecem a célula na qual o vírus está crescendo, proliferando e atacando essas células. É como se ela estivesse destruindo o mal pela raiz, atacando a fabricação do vírus. Então ela reconhece qual é a célula que está infectada pelo SIV ou pelo HIV. SIV no caso do macaco e o HIV no caso do homem, e ela ataca especificamente essa célula. Então a carga viral diminui, e isso implica em que a pessoa não desenvolva a doença aids, apesar dela ser portadora do vírus. Mas isso é importante porque ela não vai em um quadro da doença.”
O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, conta que o estudo está em fase inicial e que uma vacina contra aids poderá se tornar realidade talvez só daqui a dez anos. Ele reconhece a importância do estudo, mas diz que essa possível vacina não vai eliminar a doença e, sim, o desenvolvimento da aids em pessoas infectadas com HIV.
Por isso, Greco lembra da importância da prevenção. “Em toda conversa científica, queremos saber quando vamos ter uma vacina eficaz, e quase sempre o número é mágico: daqui a dez anos. Mas já se fala nisso há muitos anos. Isso só mostra para nós que hoje a nossa vacina é a prevenção. Se nós pensarmos que vamos controlar a infecção esperando que uma bala mágica venha, que seja medicamentosa ou seja uma vacina, nós vamos continuar correndo risco. Lembrando que o HIV/Aids não é a única doença sexualmente transmissível. Mesmo que a controlemos, ainda tem a hepatite, HPV, sífilis. Todas elas doenças graves que podem trazer problemas. Nós precisamos continuar sempre discutindo a prevenção”, ressalta.
Além disso, o diagnóstico precoce é extremamente importante. ”Nós continuamos, cada vez mais, investindo no diagnóstico. É importantíssimo a pessoa saber se está infectada ou não para facilitar o tratamento e a eficácia dos medicamentos”, destaca o diretor. Estima-se que existem hoje no Brasil cerca de 630 mil pessoas vivendo com o HIV, o vírus da aids. Dessas, 255 mil nunca teriam feito o teste e por isso não conhecem sua sorologia. E o diagnóstico é fundamental para o controle da epidemia.
Desde 2003, o Ministério da Saúde realiza uma estratégia de mobilização para incentivo ao diagnóstico precoce: o Fique Sabendo. Ele atua em Unidades Básicas de Saúde, Centros de Testagem e Aconselhamento e ambulatórios ou em locais como praças, feiras e eventos específicos. Em 2012, o Fique Sabendo começou, também, a oferecer medicamento à pessoa no momento em que tem diagnóstico positivo para sífilis.
HIV e aids - HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outros pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação.
Já a aids é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, como também é chamada, é causada pelo HIV. Como esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer. Saber precocemente da doença é fundamental para aumentar ainda mais a sobrevida da pessoa. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda fazer o teste sempre que passar por alguma situação de risco e usar sempre o preservativo.